sexta-feira, 21 de março de 2008

Des-Esperar




Amo. Sofro do mal da espera. Sofro de ansiedade crônica.
Espero uma resposta, uma chance, uma volta, um chamado, um contato, uma simples ligação. Digito minha senha e abro meu e-mail.
A simples constatação de que não há, entre as tantas dezenas de e-mails não lidos,
um único de quem tanto espero, me corta a alma e mal consigo me concentrar.
Uma sensação de desamparo me toma. Quem ama (se) DES-espera.
Quem ama é sempre quem sente e pensa a espera do outro.
Como diz Barthes, temos uma cenografia da espera.
Por exemplo, eu diante do telefone.
Com o aparelho de telefone a angústia é maior. Recebemos ordem de não se mexer.
A espera de um telefonema de quem amamos ou de quem conhecemos na noite anterior se
tece de proibições mínimas: nos impedimos de sair da sala, de se afastar do aparelho.
Atendemos todas as ligações como se fossem para nós.
Impedimos até que telefonem para não ocupar a linha.
Ficamos olhando o aparelho como ele fosse falar.
Percebemos suas formas, a poeira entre os vãos, digitais esquecidas... e um silêncio mudo.
Por que não toca e se manifesta e alivia minha espera?
Se ele toca, me desespero, mas finjo normalidade e displicência:
“Quem? ..hã...fala mais alto!!... ah sim, como você está? Que bom que me ligou...
não, não, nem imaginava!”.

Existe uma cenografia, mas também um teatrinho da espera.
Tentem imaginar os antigos que esperavam longos meses por uma simples carta de amor que,
na maioria das vezes, se desviava e raramente chegava ao seu destino.
Mais ou menos como uma mensagem presa dentro de uma garrafa atirada em mar revolto.
Quem a lerá, quem virá ao meu encontro, quem me libertará desta ilha no oceano?
Mas toda espera é longa e melancólica.
Meus minutos de 24 horas cada e cada segundo a mais de eternidade sem fim, me condena
e a ligação ou resposta que não vem pode ser interpretada como dupla possibilidade:
Não recebeu ou não me ama mais...
E aí a dúvida pode perdurar uma vida. E a incerteza é a pior das esperas.
Um adeus a gente sofre e esquece, mas um talvez... talvez!

Um comentário:

Stela Masson disse...

Me "achei" em todos os seus textos. E, por fim, decidi postar neste último a minha afinidade com seu pensar, sentir e expressar.
Adorei "conhecer você."
Continue a se provocar e a nos envolver nas suas expressões tão genuinas e humanas, enfim, "quase" comuns...