quinta-feira, 17 de abril de 2008

Toques em Silêncio


Quem vai me dizer o que sinto toda vez que sou tocado? Quem vai poder traduzir em algum dicionário este verbete? Um toque é algo intraduzível, ou como diriam os poetas INEFÁVEL. Aquilo que palavras não conseguem explicar. Cada centímetro de nosso corpo é uma janela de sentidos: pois a pele sente, cheira, a pele toca, enxerga e se entrega ao outro toque. Ela é uma extensa superfície de magnetismo intenso que percorre todo nosso corpo exposto.
Sentir a carícia ou um toque de algumas pontas de dedos deslizando, bobas a brincar, sobre nossa fina casca protetora, serve-nos de alívio a qualquer peso, angustia ou pressão. Ela é um farol, um porto onde outras naus perdidas, a noite, se atracam, um imenso mar aberto exposto a direção dos ventos de seus dedos, viciada no roçar de outras peles, de outras temperaturas e suores febris. Ela sua, mas também é sorvedouro de meus desejos: com suas redes e ardis captura cada toque para eternizá-los na memória. Quem pode esquecer de longas carícias noite adentro? Espinoza dizia que as zonas erógenas são regiões de memória de nosso corpo infantil. Não é só na mente que carregamos memórias. Nossas peles também.
Locais que foram acariciados num momento preciso e que toda vez que são retocados, lembram e tremem de prazer.
O toque do outro é um sinal de vida, um sopro que acende a chama, pontas de dedo que reanimam a alma, que fazem a respiração acelerar. Na ausência do outro, existe o toque pessoal, a redescoberta do corpo, os minutos lúdicos e sensuais de devaneios físicos, o resgate da auto-estima e a viagem por uma geografia familiar e muitas vezes esquecida. Não se trata de abrir mão do toque alheio, mas de perceber que a gente também pode se amar e muito.