
Reduzimos o sexo, inumeras vezes, ao mínimo denominador comum dos encontros de fim de noite. Colocamos ele como a coroação de um dia desgastande de tédio e trabalho, como válvula de escapes de frustrações e desesperanças.
Ele, talvez, se transformou na própria síntese da carência afetiva transformada em múltiplos e sucessivos encontros, sexo quantitativo e servido e digerido como fast food.
A sedução rápida, e pouco heróica, e o desencantamento depois do gozo, como um incomodo beco sem saída depois da caminhada, se confundem, no final com o nojo ou a culpa reprimida, enquanto a calça e a camisa são abotoadas rapidamente.
Esperamos que os encontros sexuais sejam auto-suficientes e independentes de nossas esperanças de completude. O carinho e o toque ficam reprimidos junto com as palavras não ditas, coagulados no gargalo, presos da garganta e julgamos estar, assim, livres e vivendo o amor-livre.
Sim! livre de carícias, livre de responsabilidades e pernas entrelaçadas. Livres de mãos que se tocam acima dos corpos, livre de toda aura romântica de continuidade. Livre do compromisso de um telefonema, livre de um beijo e um olhar de intimidade. Incapaz de uma massagem final, de alguma sobra de contiguidade, de uma permanencia ou de um café da manhã com sorriso e endereço de entrega.
O sexo hoje é intenso e frágil, patina sob o gelo das superficialidades e a próxima estação é uma incógnita aos amantes celerados que trocam de parceiros, assim como trocam a roupa de cama. Ele é visto como performance e avaliado pelo grau de satisfação que possa nos trazer por si mesmo.
O sexo se tornou elemento de frustração. Se tornou um vício que incita o que deveria curar: a solidão e a falta.
O sexo não precisa do componente amoroso e afetivo de que tanto falam pra existir, mas não pode se desvencilhar da emoção e da entrega, porque somos mais que animais instintivos e sexuais, somos almas humanas em busca também de calor e completude.
Que seja rápido, mas que seja intenso e verdadeiro enquanto dure.
Que seja fortuito, mas que se prolongue na memória afetiva da nossa derma.
Que tenha alma e coração e não seja apenas dois corpos anônimos e um prazer sem nome, endereço ou direção.
2 comentários:
Sérgio, viajo em suas palavras e minha mente pergunta:
Até quanto o autor se envolve em suas palavras? Será a tradução de sua própria vida?
Será eu merecedor deste "Sérgio" que compreende o amor, e o vivencia de maneira tão singular?
Você existe?
Adorei o texto.
Ale
(since74sp@gmail.com)
Oi Sergio,
Estou lendo o seu blog e gostando bastante. Este post é perfeito, adorei!
abraço, Antonio
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